Pistas de um mercado de inverno

on terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O mercado de inverno pautou-se por um período de muita especulação mas pouco investimento. A “Crise” faz-se sentir, e de que maneira, portanto as contratações foram escassas e quase todas a custo zero.
Olhando unicamente para os três grandes do nosso Futebol, é fácil interpretar algumas pistas que este mercado de inverno nos deixou.

FC Porto
O FC Porto foi o Clube que mais se mexeu, não admira. A realizar uma época aquém do esperado e com muitos percalços, o FC Porto adoptou um papel activo nas aquisições e nas “dispensas”.
Lucho foi a grande contratação deste Inverno. Não tenho dúvidas que foi uma decisão acertada do FC Porto. Muito se especulou quanto á condição física do jogador e se ainda manteria as capacidades que fizeram dele uma referência na Invicta.
Mas Lucho é muito mais do que condição física. É cérebro, é classe, é inteligência, é experiência. O FC Porto contratou um jogador capaz de repor ordem numa equipa algo anárquica e desprovida de sentido. Um jogador que interpreta como poucos todos os momentos do jogo e que resolve algumas das principais lacunas do FC Porto – por exemplo a dependência de João Moutinho. O ex Sporting também agradecerá. Deixará de ter que assumir a primeira fase de construção e de ainda ser obrigado a aparecer mais á frente para dar sentido ao futebol do FCP. Repartirá a função de orquestrar o futebol Portista com Lucho e estou certo que o FCP ganhará qualidade e sobretudo orientação.
Lucho será referência em termos de organização ofensiva, será peça chave nas transições defesa-ataque.
Da experiência e de peso no balneário falarei mais adiante…

Janko foi o segundo reforço do clube azul e branco.
Um jogador diferente da realidade recente do clube Portista. O FCP contrata um ponta de lança puro e não um avançado centro, como eram Lisandro, Falcão…
Do pouco que ainda foi possível ver, parece-me um jogador com características interessantes e que vem dar mais peso e referência ao jogo do FCP no último terço.
Apenas com 4 treinos com os colegas, apareceu a fazer apoios frontais com alguma qualidade, jogando a um dois toques, sempre com eficácia – algo que até então pouco se tinha visto no jogo Portista.
É um jogador que prende a defesa contrária, que consegue jogar entre os centrais, e que funciona como referência, algo que com Kleber e Hulk o Porto não tinha.
Por outro lado, o caudal ofensivo do FCP, a capacidade de desequilibrar pelas faixas, era desaproveitada, pois na área o FCP não tinha um finalizador.
Janko parece-me muito forte de cabeça, eficaz com o seu pé esquerdo. Ainda não dá para ter boa noção da sua movimentação na área, mas face ás características dos defesas do Campeonato Nacional, Janko será golo, com mais ou menos brilhantismo, com mais ou menos recorte técnico.

Ainda há Danilo.
Ainda verde em termos táticos, Danilo revela grande capacidade atlética e uma propensão ofensiva bastante interessante. Se em termos defensivos teremos de esperar para ver, em termos ofensivos o FCP deixa de ficar dependente da asa esquerda, de Álvaro Pereira. Passa a ser uma equipa a voar pelos dois corredores, com dois laterais capazes de dar muita largura e profundidade ofensiva. Janko agradecerá os cruzamentos desta nova dupla!

Mas nem tudo parece ser boa notícia para o Dragão.
As saídas deixam perceber problemas de liderança e de motivação no balneário Portista.
Subitamente o FCP abdica de 3 jogadores com peso nas conquistas recentes dos azuis e brancos. Fucile foi riscado (tal como parece estar Sapunaru) e transferido para o Brasil. Guarín, que não parecia ter a cabeça no Dragão, sai para o Inter. E Belluschi, peça importante na equipa de Villas Boas, sai subitamente para Génova.
Acredito que tenha existido a necessidade de cortar nas despesas e abrir vaga para ter um jogador como Lucho.
Mas mais do que isso, a necessidade de contratar Lucho e as próprias palavras do treinador que se referem ao Argentino como sendo um jogador com capacidade para ter peso no balneário, assim como a transferência aparentemente forçada e apressada de jogadores importantes do FCP, deixa a clara sensação que Vítor Pereira estará a vivenciar grandes dificuldades para manter um grupo unido, coeso e com a cabeça no FCP.
Haverá crise de liderança no Dragão?

SL Benfica
Na equipa principal do SL Benfica as mexidas foram poucas.
Saiu Ruben Amorim em rota de colisão com o treinador Jorge Jesus, entrou Yannick e Enzo Perez estará perto de ser reintegrado.

Muito se falou do erro que pode ser a contratação de Yannick. A mim parece-me uma boa jogada de mercado, uma solução de “win-win”.
O jogador chega a custo zero, é Português (importante em função da nova legislação da UEFA), não aufere um salário mensal verdadeiramente significativo e também não entra para ter que render já.
Muitos são aqueles que parecem não apreciar o estilo do técnico Jorge Jesus. Goste-se ou não do estilo, Jorge Jesus é um treinador de topo, com uma capacidade fantástica e que revela um acompanhamento e conhecimento de mercado que poucos conseguem igualar, é um workoholic. Estou certo que ao tomar a decisão de contratar Yannick estará a pensar mais no futuro que no presente e estará a assumir a sua própria capacidade de reinventar jogadores e de os projectar para patamares de rendimento superiores.
Yannick chega em Janeiro, sem ritmo, mas com muita motivação e vontade. Será um jogador agradecido ao treinador pela oportunidade e, como tal, dificilmente levantará “ondas” se não for opção nos próximos tempos.
Jesus ganha um jogador com as características que procura numa ala. Jogadores rápidos, potentes, versáteis, verticais e que finalizam com alguma qualidade. Ganha mais um jogador Português, mas sobretudo ganha tempo.
Tempo para adaptar Yannick a um Futebol diferente, tempo para trabalhar o jovem Português e tempo para ir precavendo a possível saída de Gaítan, que deverá ser alvo de forte cobiça no mercado de Verão.

Quanto ao Clube, adquire um jogador com mercado a custo 0 e que mesmo em caso de flop, certamente não terá peso nas contas do Clube.

Arrisco ainda a referir Nelson Oliveira. Com o avolumar de jogos, será mais vezes opção e conhecendo a capacidade de Jorge Jesus, como conheço, e o talento e margem de Nelson, parece-me a mim que teremos um jogador em clara ascensão na segunda metade da época.


Sporting CP
Quanto ao Sporting não há muito a referir.
As entradas parecem ser de recurso e sem a qualidade desejada por Domingos (obviamente que o digo ainda sem grandes certezas, pois pouco deu para ver dos reforços).
Xandão, mesmo com a defesa a ser uma grande dor de cabeça para o treinador Leonino, não parece ser opção. Vem de uma realidade completamente diferente, certamente com muitas lacunas em termos posicionais e de compreensão do Jogo e poderá tardar em aparecer como opção em Alvalade. Projecto para futuro ou flop?
Ribas, um possante avançado, soma oportunidades desperdiçadas no seu currículo. Vem para fazer sombra a Wolfswinkel, mas dificilmente terá muitas oportunidades de agarrar uma vaga no onze.
Renato Neto aparece como mais uma aposta na prata da casa, mas em campo não consegue justificar a aposta.
Fisicamente é imponente, mas o seu futebol é básico. Tem de crescer muito para ser opção credível e custa perceber porque não joga mais vezes André Santos.

Os melhores reforços para o Sporting serão certamente o regresso á melhor forma de alguns lesionados.
O meio campo actual do Sporting é pouco agressivo, é pouco combativo e não consegue garantir a capacidade de recuperação de bola que um meio campo de uma equipa grande necessita. Com Rinaudo e Schaars a equipa ganhará maior consistência e equilíbrio, com Izmailov criatividade e objectividade, com Wolkswinkel golos e com Jeffren velocidade e capacidade de desequilíbrios nas faixas.

E ainda há André Martins. Tardam em aparecer oportunidades, mas o talento está lá.


Resta-nos, pois, aguardar para ver e acreditar que o Campeonato terá emotividade até ao fim!

Domingos e as papas cerelac

on terça-feira, 3 de janeiro de 2012
Ponto prévio, sou um admirador confesso de Domingos Paciência enquanto treinador de Futebol. Gosto do positivismo do futebol das suas equipas, gosto da audácia e atrevimento, gosto da personalidade. Admiro também os resultados que tem alcançado.
Contudo hoje falarei sobre aquela que, para mim, é ainda a sua grande lacuna. Refiro-me a aspectos relacionados com a sua comunicação verbal e não verbal.
Um aspecto já muito discutido e sobre o qual não acrescentarei muito mais, é a sua postura no banco. A forma como por vezes se esconde na “escuridão do banco”, quando as coisas não correm bem. As expressões de desespero (colocar as mãos na cabeça, etc) que passa para os seus jogadores, etc.
Estes pormenores, que no seu conjunto poderão ser “pormaiores”, deixam bem patente algum descontrolo emocional do treinador Português durante os jogos, descontrolo esse reflectido através de uma comunicação não verbal deficiente/errada.

Mas não é só na comunicação não verbal que Domingos comete alguns erros.
Também no seu discurso revela algumas fragilidades, particularmente na forma como nem sempre sabe utilizar o discurso “para fora”…como um instrumento de motivação “para dentro”.
Bem recentemente, na antevisão do jogo frente ao Rio Ave para a Bwin Cup, e a escassa semana para um jogo importante para o Sporting como é o clássico frente ao FC Porto, Domingos, numa clara tentativa de tirar pressão dos seus jogadores, de fazer referência à margem de progressão que a sua equipa terá, mas por outro lado também retirar pressão dos seus ombros (caso o jogo com o FC Porto corra menos bem) referiu que a equipa do Sporting se encontra numa fase de papas cerelac.
Para mim foi uma frase infeliz, um erro. Um erro na gestão emocional dos seus jogadores. Acredito até que terá sido um erro que teve reflexo no desfecho do jogo frente ao Rio Ave.

A poucos dias de um jogo tão importante como o jogo frente ao FC Porto, a lógica apontaria no sentido de um discurso confiante, motivador, seguro.
Ou seja, aproveitar a Comunicação Social como meio de passar uma forte mensagem de confiança e esperança para dentro do balneário.
Se o Sporting quer realmente vencer uma equipa com a qualidade do FC Porto, terá que estar confiante, num nível muito alto e terá de existir um apelo á auto-superação dos seus jogadores.
O discurso do técnico do Sporting passou, no entanto, uma mensagem completamente contrária ao que seria de esperar e ao que se aconselharia.
Soou a “desculpabilização” para um possível desaire, soou a alguma falta de confiança e ao receio de defrontar o FC Porto.

Coloquemo-nos na posição de um dos jogadores do plantel do Sporting, após ler as declarações de Domingos.
Como pode um jogador sentir-se motivado para defrontar o actual detentor da Liga Europa, invicto á mais de 50 jogos na Liga Sagres, após ler o seu próprio treinador a referir que a sua equipa ainda não está preparada para determinados desafios, que ainda está numa fase precoce de crescimento?

Quanto a mim Domingos terá de rever a pertinência de algumas das suas afirmações á Comunicação Social.
Também se comunica com o balneário, falando para fora. Também se motiva e contribui para uma maior auto-confiança dos jogadores, nas conferências de imprensa.

"Para mim, no futebol o mais importante é a gestão de recursos humanos. É uma ciência humana. A inteligência emocional é a base deste desporto e de todos.”
Esta é uma frase recente de José Mourinho. Identifico-me totalmente com a ideia transmitida e parece-me a mim que Domingos não terá tido em conta esta questão, quando escolheu um timing tão mau para se referir ás papas cerelac.

As B e os "iluminados"

on segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
2012 pode ser um ano de grandes mudanças.
Novo Presidente na Federação, um Homem a quem reconheço competência e capacidade para pensar o nosso Futebol e conduzi-lo para um patamar superior.
Para vencer as eleições falou naturalmente da protecção ao jogador Nacional. É uma “temática da moda”. Durante anos ninguém quis saber, durante anos andamos á deriva, mas subitamente passou a ser uma temática falada pelas pessoas do Futebol mas também pelos Governantes deste País, etc.

Mas sem fugir ao tema.
A primeira medida para proteger o jogador nacional já está tomada. A “repescagem” das B, mas agora com um enquadramento mais sério e mais de acordo com aquele que deve ser o propósito de uma equipa B.
Equipas B enquadradas numa Liga Profissional competitiva (fundamental para que os jogadores possam evoluir favoravelmente) e alguma legislação para não se fazerem das equipas B, castigo para os jogadores indisciplinados das equipas A, um espaço para rodar jogadores menos utilizados, etc.
Finalmente as B foram pensadas com o propósito de servir a formação de talentos e em particular do jogador Português.
Mas da teoria à prática há um longo caminho a percorrer, particularmente em Portugal.
As equipas B serão vistas como natural rampa de lançamento para as equipas profissionais, ou como um espaço de interesses e negociatas com alguns empresários? Haverá coragem para fazer o “transfer” dos B para os A ou os B serão um espaço de formação para um, dois anos e o futuro o mesmo de agora: emprestar a outros equipas até acabar o vínculo, moedas de troca, etc…
Aguardo com alguma expectativa o rumo que será dado a este projecto.
Com a aposta feita em infra-estruturas, em redes de prospecção, em pessoal qualificado para potenciar as “pérolas em bruto”, etc, é fundamental que as equipas B sejam encaradas da forma correcta e, realmente, como um último passo na formação dos jogadores para virem a ser integrados nas equipas A.
O Presidente do SL Benfica, Luis Filipe Vieira, tocou recentemente com o dedo na ferida: nos próximos anos os clubes nacionais terão que reduzir despesas e ser mais “criativos” na forma como investem. Que tal começarem pela prata da casa?
A ver vamos. Até lá, fica o exemplo do Marítimo B, um projecto que já permitiu ao clube da Ilha da Madeira lançar vários jovens jogadores de qualidade (independentemente se são Portugueses ou estrangeiros).


Mas enquanto as pessoas do Futebol dão claros sinais de quererem a mudança, recentemente aparece o Governo, com o propósito de auxiliar o Desporto, e em particular o Futebol.
As entidades governativas apresentaram algumas sugestões. Uma delas achei ridícula e completamente desenquadrada com o Futebol Nacional.
Diria que mais uma vez queremos andar a reboque dos outros, queremos imitar o que vemos lá fora, mas não pensamos na nossa realidade, no nosso enquadramento.
Segundo as entidades governamentais, será importante implementar limites na contratação de jogadores estrangeiros. Até aqui poderei concordar, realmente urgem medidas para obrigar os clubes a serem mais selectivos e a importarem mais em qualidade e menos em quantidade.
Mas eis que os “iluminados” referem que devia ser enquadrado no futebol nacional uma medida que obrigue os clubes a contratar jogadores que apresentem como requisito determinado número de internacionalizações pelo seu país (a fazer lembrar Inglaterra não?!?).
O que os senhores governantes não se lembraram é que os clubes nacionais não têm a capacidade financeira e portanto a atractividade para recrutar jogadores internacionais.
O factor que ainda permite ao Futebol Português ser competitivo lá fora e que permite aos Clubes não entrarem ainda mais num buraco financeiro, é a capacidade de contratar bom e barato, formar e vender por preços bastante significativos.
Foi assim que o FCP consolidou o seu projecto desportivo, é com base nisto que o Sporting ainda sobrevive á crise, é com base nisto que o Benfica vai conseguindo emergir e tornar-se cada vez mais competitivo internamente e lá fora. E é com base nisso que clubes como o Braga, etc, conseguem aparecer no mapa do Futebol.
Mas sobre isso os governantes não pensaram. O segredo está em copiar os modelos dos outros. Fazemo-lo na economia, na educação, na saúde, com os resultados que temos visto, agora também queremos faze-lo com o Futebol.
É justo. Já que estamos numa crise profunda, quer económica quer de identidade, porqué manter competitiva a única área que ainda vai dando alegrias e prestígio a Portugal?
Acabe-se com o Futebol também….

André Martins, um Cule da cantera Leonina

on sexta-feira, 25 de março de 2011
Encontro-me a observar a selecção de sub21. A primeira conclusão que tiro é: que lufada de ar fresco.
Embora ainda com muito para afinar e corrigir, Rui Jorge devolveu aos sub21 (ao contrário de Oceano) a vontade de pressionar alto, de assumir o jogo. Só por isso já foi uma boa alteração na equipa técnica.
A 2ª boa nova são as caras novas, os “ilustres desconhecidos”, as oportunidades dadas a jogadores que andam “desaparecidos” por divisões secundárias. De repente a selecção de sub21 deixou de ter lugares cativos, deixaram de aparecer sempre os mesmos. É preciso brigar por um lugar, e os jovens sub21 que assistem pela tv sabem que se trabalharem muito e bem nas suas equipas podem acalentar a esperança de envergar as quinas ao peito.

Mas aquilo que realmente me fica na retina é a qualidade de André Martins.
Durante o seu processo de formação sempre foi um jogador que me encantou. Pequeno (e por isso riscado por alguns como opção), rotativo, agressivo com e sem bola, inteligente, boa leitura, antecipa os lances com facilidade.
Ainda andou pelos séniores do Sporting antes de “desaparecer”. Já não o via a jogar á uns tempos, mas agora que estou a ter essa oportunidade reafirmo ainda com mais convicção: que excelente jogador que temos ali.

Com André Martins o jogo português passa a ter um guia.
A jogar na posição 6, a repartir o miolo com dois outros jogadores, um deles que nem tem características de médio, André Martins é um pivô a sério (embora goste mais de o ver a interior).
Um jogador que mais que destruir, constrói. Oferece constantemente linha de passe, assume o jogo, quer a bola para depois desenhar a construção do jogo ofensivo de Portugal.
A forma como o faz é sublime. Sempre numa rotação “tática” altíssima, de cabeça levantada, com os apoios apontados para o sentido do ataque. “Mostra-se”, recebe, toca, vai buscar á frente, toca novamente e o seu jogo é isto.
Ora na posição central, ora a a apoiar de dentro para fora na faixa, Portugal ganha sentido no seu futebol e por outro lado Portugal ganha um jogador capaz de fazer a bola rodar por trás dos adversários em busca de espaço para entrar no tempo certo em zonas de finalização.
A sua importância não se esgota aqui. Forte nas coberturas, inesgotável no trabalho, agressivo no pressing. É de tal forma intenso o seu jogar que os interiores parece que conseguem descansar mais com ele em campo.

É uma espécie de Moutinho. Embora seja perigoso fazer comparações, pq não há dois jogadores iguais, é um jogador que cabe perfeitamente numa equipa que quer ter bola, que gosta de a fazer circular e que gosta de pegar na batuta do jogo.
Este André Martins no FC Porto atingiria um nível que poucos imaginam!
Um jogador com ADN Barcelona.

Estejam de olho senhores candidatos a Presidentes do Sporting CP!

A Liga Europa e o treinador Português

on sexta-feira, 18 de março de 2011
Ainda no momento de regozijo pelo apuramente de três equipas portuguesas para os quartos de final de uma competição europeia, fui invadido por um sentimento de orgulho no nosso futebol, mas em particular nos nossos treinadores, no treinador nacional.
Alguns minutos mais tarde, assistindo ao programa pontapé de saída, senti da parte dos comentadores o mesmo orgulho e a mesma constatação de um facto.

Numa altura em que parece que as eleições do Sporting CP se decidirão através do candidato que apresentar o treinador mais sonante, não deixo de pensar que mais uma vez a classe dirigente prefere viver “numa completa” ilusão. Subitamente os “salvadores” do Sporting são o Zico, o Scolari e mais uns quantos treinadores estrangeiros que com mais ou menos afinidades ao nosso País não têm o perfil adequado para treinar um clube português.
Se calhar é até atrevido da minha parte dize-lo de um treinador campeão do mundo, o qual alguns Portugueses ainda hoje colocam num pedestal.
O mesmo seleccionador que destruiu parcialmente o futuro da nossa selecção, que se recusou a pensar na Selecção como uma pirâmide que precisa de solidez na base para que no topo apareça a nata.
Ou seja, desleixou por completo os escalões de formação, ignorou a necessidade de renovação gradual da selecção principal e saiu já sem glória... aproveitando para ganhar uns milhões num país em que “quem tem olho é rei”.

O Sporting CP é apenas um exemplo, um de muitos exemplos que se repetem ao longo dos anos. O que é estrangeiro é que é bom, é que é reconhecido, é que tem qualidade.
E depois passam por cá os Koemans, os Camachos, os Quiques, os Del Neris, os Vitor Fernandez e tantos outros que com mais ou menos sucesso não trouxeram glória e estabilidade aos clubes que orientaram.
Serão fracos? Era incapaz de o dizer. Não teriamos melhores alternativas em Portugal? Estou convicto que sim.

Jorge Jesus, na época treinador do SC Braga, teve a coragem de dizer algo que me parece claro: os treinadores Portugueses estão anos luz á frente dos anglo-saxonicos, dos Espanhóis e até dos Italianos que teimam em estagnar no tempo, no que diz respeito á metodologia de treino. Apenas o treinador francês parece estar a um nível similar.
Ou seja, não seria apenas Mourinho a defender que temos treinadores de muita qualidade em Portugal, tinhamos um treinador ainda desconhecido na Europa, a treinar o modesto Braga, sem medo de afirmar que Harry Redknapp (tão só o treinador de uma das surpresas da Champions deste ano – o Tottenham) era um treinador limitado e sem noções da componente estratégica do jogo.
Ontem Luis Freitas Lobo repetiu-o.

E se olharmos ao passado recente um mesmo denominador: o FC Porto atinge a glória europeia com um treinador português, José Mourinho (até aí visto como um tradutor), o Sporting atinge uma final europeia com um treinador luso, José Peseiro (muito mal tratado pela comunicação social Portuguesa) e ontem três equipas Portugueses escrevem história, orientadas por três treinadores portugueses: os jovens Villas Boas e Domingos e o experiente Jorge Jesus.
Podem dizer que é coincidência, mas eu não acredito em tantas coincidências.
Somos evoluidíssimos ao nível da metodologia de treino, temos qualidade nos aspectos táticos e estamos um ou dois patamares á frente no ponto de vista estratégico.
Somos portanto um País com excelentes treinadores, preparados na teoria e na prática para brilharem noutros palcos, noutros Ligas, em mercados mais apetecíveis.
A muitos apenas falta projecção e a oportunidade.

Jesus já chega tarde á ribalta, Domingos afirma-se num clube até então desconhecido na Europa, Villas Boas prova que é o treinador do futuro.
Três treinadores Portugueses, três treinadores que se dedicaram ao estudo aprofundado do jogo e arriscaria a dizer que três treinadores vincadamente com ideias nossas, portuguesas.

Enquanto em Portugal não se convencerem que em vez dos milhões em salários e das capas de jornais com treinadores estrangeiros, terão muito mais probabilidades de sucesso com o “portuguezinho”, que ganha menos, que exige menos e que provavelmente se dedica de corpo e alma ao projecto porque sabe que tem apenas uma oportunidade para agarrar o sonho, continuaremos a ver clubes á deriva em termos de política desportiva e arredados dos títulos durante vários anos.

Parabéns ao SL Benfica, FC Porto e SC Braga, mas sobretudo parabéns aos seus treinadores que continuam a provar que em Portugal se trabalha com grande qualidade nas quatro linhas.

Avançados. Os "patinhos feios" da Formação?

on quinta-feira, 10 de março de 2011
Há cerca de um ano atrás, numa das minhas muitas deslocações aos estádios deste País, deparei-me com uma equipa com qualidade, quer individualmente quer colectivamente.
Jogavam um futebol alegre, ofensivo, com bons rasgos individuais e com combinações interessantes.
Era uma equipa composta por miúdos que tratavam bem a bola, com capacidade no 1x1, com inteligência na decisão. Mas lembro-me que desde o primeiro momento me ficou na retina um outro tipo de jogador. Um jogador alto, um pouco descoordenado, esforçado e com um remate forte. Um “candidato” a ponta de lança.
Voltaria a ver jogos da mesma equipa, voltaria a focar o meu interesse nesse mesmo avançado. Um miúdo com margem e recursos para, mas ainda longe de “encarnar” a personagem de ponta de lança. Sem grandes noções de como movimentar, sem preocupação de jogar com e para a equipa (não aparecendo como apoio frontal na construção) e ainda tímido na forma como procurava a baliza, procurava o golo.
Quis o destino que viesse a encontrar a mesma equipa e portanto o mesmo jogador, agora numa relação de treinador – jogador.
Começou a época, tive a oportunidade de conhecer todos os atletas aprofundadamente. Tive curiosidade em conhecer melhor o avançado, em conhece-lo verdadeiramente ainda que procurasse não o diferenciar dos outros.
Deparei-me com um miúdo bem integrado em termos de grupo, muito activo no balneário ainda que longe de procurar fazer prevalecer a sua influência. No campo..tímido, menos confiante do que eu esperava.
Sempre com vontade de trabalhar, sempre com ouvidos bem abertos, mas tímido. A questão que se colocava - timidez natural ou uma forma disfarçada de alguma falta de auto-confiança?
Em conversa percebi que se tratava realmente de auto-confiança. Humildade para reconhecer que ainda tinha muito a percorrer, mas falta de confiança para assumir que tinha margem e potencial para atingir um rendimento muito superior.
Com o início dos treinos, com os jogos, apercebi-me que era algo interno, mas também externo.
Um miúdo com pouca experiência numa posição como a de ponta de lança, posição essa muito exigente e específica, um miúdo que “esticou” depressa e portanto perdeu alguma coordenação e agilidade, mas ainda assim um miúdo com mentalidade de trabalho, de esforço, com pormenores técnicos assinaláveis para alguém da sua morfologia, uma potencia de remate invejável.
Ali estava talento e margem por explorar. Sem querer falar em jogador de top, certamente um bom jogador que tinha tudo para render mais, para evoluir rápido e para se assumir como peça fundamental na equipa.
Mas a auto-confiança ou neste caso a falta dela, castigava este miúdo.
No momento da verdade, no momento da finalização não estava tranquilo, sentia a pressão externa que existia á sua volta.
Não era para menos. De alguma forma, alguém como eu que só estava no clube á 2,3 meses, percebia que o meu jogador era uma especie de “patinho feio”. Sempre importante na manobra da equipa, bem do ponto de vista exibicional, mas se no momento certo não revelasse eficácia na finalização, da bancada “bocas”, “comentários”, etc.
Era portanto necessário combater esta situação para dar início a um trabalho profundo e específico para que este miúdo se tornasse num avançado completo. Eficaz na finalização, importante na manobra colectiva e capaz de “inventar” espaços para si e para os seus colegas.
Foi portanto necessário trabalhar a cabeça. Trabalhar o aspecto mental. Só com a cabeça limpa e com uma boa dose de confiança, este miúdo conseguiria uma curva ascendente na sua evolução.
E assim foi. Muitos incentivos em treino, correcções sempre num tom positivo e optimista e o reconhecimento da capacidade de trabalho do mesmo, perante todo o grupo, como sinal de total confiança dos treinadores nas suas qualidades.
No campo o jogador respondeu com tudo o que tinha.
Já o era, mas rapidamente se tornou exemplo de trabalho e de motivação. Sempre a trabalhar nos limites, a exigir a si mesmo e aos colegas o máximo e sempre com uma atitude de nunca atirar a toalha ao chão nos momentos mais complicados.
A partir daqui foi fácil moldar este jogador para se adaptar ao que a equipa precisava mas sobretudo ao que era necessário para ele próprio render cada vez mais como avançado.
A responder positivamente a cada desafio, a cada exercício, a cada barreira imposta. A melhorar em todos os aspectos do seu jogo e a crescer de dia para dia em termos de qualidade.
Hoje é um jogador inquestionável na equipa, uma das peças chave do onze, um elemento de peso pelos golos, pelas assistências e sobretudo pelo que joga para a equipa e faz a equipa jogar.
A desconfiança de quem acompanha a equipa do lado de fora vai-se esvanecendo e o futuro do avançado parece seguro.


Isto faz-me questionar a paciência que existe para trabalhar jogadores com este tipo de características.
A verdade é que em termos muito gerais exige-se o mesmo que se exige aos séniores quando falamos de formação.
Rendimento imediato, eficácia, golos, vitórias, conquistas.
Se não rende já, se não marca agora, então não joga, não tem qualidade para jogar e ser aposta dos treinadores.
Não será esse o motivo para termos problemas enormes na posição de ponta de lança ao nível das selecções nacionais?
Não será que a resposta está em detectar os miúdos com características naturais para a posição e através de um trabalho paciente e de continuidade, trabalhar estes miúdos e evolui-los para que possam aparecer em termos de rendimento e eficácia mais tarde?

O meu avançado era um miúdo alto, fisicamente imponente para a idade. Com alguma velocidade, um pouquinho descoordenado mas ainda assim com qualidade ao nível dos gestos técnicos, não destoando significativamente dos restantes colegas.
Potente no remate, tímido no jogo aéreo.
Por outro lado imponente fisicamente mas nem sempre agressivo nos duelos individuais, nem sempre agressivo e decisivo nas disputas de bola e na “luta” dentro da área.
No momento de finalizar algumas lacunas é verdade, mas sobretudo falta de confiança, falta de trabalho específico para se tornar mais eficaz.
Colectivamente, com boa noção de movimentos de ruptura, sobretudo em distâncias grandes, mas com pouca noção de movimentos de apoio frontal, pouca noção de momento de ataque ao espaço quando a bola é colocada no espaço de finalização.

O tempo, a paciência, mas sobretudo a sua vontade de aprender e evoluir, fizeram dele um jogador diferente e em pouco tempo.
E saliento o pouco tempo. Se conseguiu evoluir tanto em tão pouco tempo, significa que há margem para evoluir mais e mais. Haja continuidade no trabalho que tem sido feito com ele...

Hoje é um jogador com plena noção do colectivo. Não se movimenta invariavelmente para o espaço nas costas, mas ao invés é um importante apoio para garantir uma boa circulação de bola.
Joga bem de costas. Varia a decisão: recebe e esconde, recebe, orienta e conduz, recebe e tabela.
Tecnicamente cresceu. Bem mais eficaz no passe, melhor na recepção orientada, passou a utilizar também o pé esquerdo com alguma frequência. Está mais forte na técnica de remate.
Cresceu acima de tudo no 1x1, no calculismo e eficácia cara a cara com o guarda-redes.
Por outro lado está mais agressivo. Não se encolhe no choque, disputa todas as bolas no limite e cria instabilidade nos defesas contrários, pois deparam-se com um avançado possante e que não vira a cara á luta (até miúdos do escalão acima já sentem dificuldades).
A agressividade trouxe-lhe também mais peso em termos defensivos e mais capacidade para lidar com bolas paradas defensivas.
Na frente ainda não é um “animal” de área. Ainda não é aquele jogador felino de aparecer no sítio certo e de forma repentina para finalizar. Apesar das características físicas, é um jogador que aparece mais e melhor fora da área e de trás para a frente.

Obviamente que terá algo a melhorar.
Sobretudo dois aspectos fundamentais: o primeiro é o tempo e o sentido das diagonais curtas. Tem que estar mais interligado com o sector do meio campo no momento de fazer diagonais para receber no espaço e finalizar, sobretudo as diagonais curtas mas muitas vezes decisivas.
O segundo aspecto, claramente torna-lo mais “egoísta”, mais faminto pelo golo, mais egocentrico nas zonas de finalização. Embora seja louvável a mentalidade colectiva que apresenta, parece-me a mim que terá de ser mais egoísta quando tem bola. Precisa de encarar a baliza com mais confiança e disparar de meia distância sem receio de falhar. Tem potencia, tem colocação, fará muitos golos certamente. Sobretudo quando recebe sobre a esquerda e consegue espaço para fletir para dentro. Se procurar o remate mais vezes, vai fazer muitos e bons golos.


Se leram com atenção caros amigos, perceberam bem a evolução deste jogador.
O mérito não reside unicamente nos treinadores que o orientam, nos métodos de trabalho. Está sobretudo na forma abnegada como este miúdo trabalha e como encara os treinos.
Está na margem que sempre revelou e portanto numa evolução natural de um jogador que se está a formar.
Os treinadores apenas se limitaram a reconhecer talento, margem e a procurar potencia-los da melhor forma. Os métodos apenas ajudaram a que ele, tal como os restantes colegas, potenciassem aspectos do seu jogo.
Mas repito, é sobretudo a mentalidade forte do jogador e pq não dize-lo, a teimosia e confiança na aposta num jogador destas características, que hoje me permitem ter orgulho no trajeto que o referido jogador tem feito.

Este é apenas um mero exemplo.
Um mero exemplo da necessidade que existe no futebol nacional em que se acreditem em determinados jogadores, com determinadas características, e que lhes seja dado tempo, espaço e oportunidades para crescerem e se afirmarem.
Só assim começaremos a ter avançados em quantidade e em alguns casos em qualidade.
Só desta forma se começará a criar bases para chegarmos aos juniores e não vermos uma quantidade excessiva de avançados estrageiros, olharmos para os campeonatos nacionais (ligas profissionais mas não só) e contarmos pelos dedos os avançados que são Portugueses...



A observação de adversários

on quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
A observação de adversários é uma área recente.
Obviamente que nos anos 80, 90 já muitos seriam os treinadores a terem o cuidado de conhecer os seus adversários, a “radiografa-los”, contudo a área da observação de adversários, no sentido profissional, é uma área recente, e que ainda é de alguma forma marginalizada.
Marginalizada porque me parece, embora suspeito para falar, uma área crucial no futebol de alto rendimento actual, mas contudo ainda é negligenciada pelo dirigente, pelo director desportivo.
Não são muitos os Clubes dispostos a fazer um investimento em um ou mais profissionais nesta área, não são muitos os Clubes dispostos a montar um gabinete de observação.
A razão desconheço, quiça porque o Futebol é um fenómeno popular, todos os seus adeptos julgam que percebem do fenómeno, muitos adjectivam-no como simples.
Ao olhar do adepto consigo perceber. De facto parece ser um desporto de 11 contra 11, cada grupo de onze é organizado através de um desenho tático estático e o objectivo é fazer golos.
Contudo o Futebol é muito complexo, é muito mais do que isso, é muito mais do que a realidade que o adepto conhece (e que portanto para ele é a sua realidade..refutando as outras) e no alto rendimento, no futebol de alto nível, são os detalhes que começam a fazer toda a diferença. Não será a observação de adversários um pequeno/grande detalhe?
No Futebol, tal como no Mundo Empresarial ou até na Guerra, sim na Guerra, o conhecimento do adversário e a adopção de estratégias adequadas em função das características do adversário, é uma ferramenta crucial para o sucesso, para a vitória.
Se tiverem a oportunidade de ler a Arte da Guerra de Sun Tzu, rapidamente perceberão que já nos nosso primórdios, o conhecimento do adversário, dos seus pontos fortes, das suas fraquezas, das suas estratégias, dos seus comportamentos, era tido como primordial e visto como uma base para alcançar a vitória.
No Futebol não é muito diferente.
Aliás, quem tiver a oportunidade de ler a obra de Tzu rapidamente perceberá que existem grandes, inesperadamente grandes, semelhanças entre aquilo que é a preparação de um exercito para uma guerra contra um adversário específico e aquilo que é a preparação de uma equipa para um determinado jogo.
Existem os recursos humanos e suas características específicas, existe o campo de batalha, existe a motivação, existe a ordem, a tática, a estratégia, etc, etc, etc.
Grandes semelhanças!
Portanto, estranho que em Portugal, e mesmo tendo em conta a crise financeira, se considere crucial ter um bom treinador, bons adjuntos, bons jogadores, boas infrastruturas de treino, bom gabinete médico mas ainda não se tenha a preocupação de se ter um bom gabinete de observação de adversários (que se pode tornar multidisciplinar ao cobrir também a prospecção de reforços ou a análise de treino).
Acredito que seja uma questão de tempo. O tempo necessário para que todos estes treinadores com formação adequada, com conhecimento aprofundado do jogo, com uma visão mais ampla e científica do Jogo consigam impor as suas ideias aos dirigentes dos Clubes e consigam passar para as direcções que só se ganha sendo profissional e montando uma estrutura adequada ás exigências do futebol de alto rendimento.
Mas não estranhem a minha referência a treinadores “com formação adequada”. Não é de forma alguma uma tentativa de denegrir a imagem de outros tantos que, embora não sendo formados academicamente, têm uma experiência prática do jogo importante.
É sim uma referência a todos os treinadores que têm um conhecimento aprofundado e científico do jogo, que tiveram formação adequada ou que na impossibilidade de a ter, têm o cuidado de diariamente procurarem informação, se auto-instruirem para acompanharem a tendência do futebol actual.
São estes os treinadores que não menosprezam o conhecimento do adversário. São estes os treinadores que recebendo um relatório sobre o adversário, o sabem ler, interpretar e montar estratégias adequadas para aumentar as suas probabilidades de sucesso, tal e qual um grande general militar.
Só os competentes farão uso da informação que lhes chega, os que não o são basicamente até a podem ler, mas não a sabem descodificar e não sabem transformar essa informação em importantes trunfos. Diria que para ler pautas de música é preciso ter a formação necessária, caso contrário nunca conseguiremos perceber o que temos á frente dos nossos olhos.




Mas adiante,
Um outro ponto que me parece importante focar é a complexidade ou não em observar um adversário.
Esta foi uma área que sempre me fascinou, sobretudo porque desde que me conheço sempre tive a curiosidade de perceber mais e mais o futebol jogado, a identidade de cada equipa, etc.
Como tal, comecei esta actividade (que ainda hj exerço) de forma totalmente voluntária para um clube que actuava na 3ª divisão nacional, o clube da minha infância, o Vilanovense.
O objectivo era claro: exigir a mim mesmo a criação de métodos para conseguir analisar de forma adequada um adversário.
E foi uma experiência curta mas gira. Curta porque rapidamente percebi que o meu esforço não iria ser aproveitado de forma adequada pela equipa técnica. Curta porque percebi que a complexidade do futebol jogado pelas equipas adversárias era baixa.
Mas gira porque me deparei com os primeiros erros: ter em conta a parte estática do jogo e menos as suas dinâmicas, dar importância em excesso á estatística, olhar para os aspectos individuais e menos para os colectivos, etc.
Hoje, quando olho para um desses relatórios, fico com um sorriso.
Só se evolui aprendendo, errando, procurando informação e tirando conclusões. E assim fiz...
Anos mais tarde, já com um conhecimento aprofundado do jogo, já com experiência no treino e na liderança de equipas, tive a minha segunda oportunidade.
E de lá para cá as oportunidades exigiram mais qualidade, mais responsabilidade e tiveram sempre um peso maior.
Observar equipas da Liga Orangina, observar equipas da Liga Sagres, observar os adversários nas fases finais dos Campeonatos Nacionais do Sport Lisboa e Benfica.
Aquela função que me criava nervosismo e ansiedade para tentar decifrar o mais rapidamente possível uma quantidade enorme de informação em relação a cada adversário, foi dando lugar a uma observação tranquila, racional e sobretudo natural.
Hoje faço as observações de uma forma muito tranquila, focado naquilo que me interessa e sem o medo de não conseguir interpretar o que estou a assistir.
Nunca me deixei levar pelas milhentas “fórmulas” que foi lendo ao longo dos anos. Autênticos manuais de prioridades, passo por passo, para uma observação correcta.
Nada disso. Fui aprendendo com a experiência e com as conclusões que fui tirando da prática.
Construí o meu próprio método e é como ele que me sinto confortável a trabalhar.


E é com base neste relato da minha experiência que o leitor perguntará: é complexo analisar adversários?
Eu diria que é relativo.
Todos aqueles que não tiveram a experiência do treino, da orientação de uma equipa em jogo, terão certamente dificuldades.
Provavelmente irão decifrar apenas aquilo que é básico, estrutural e menos as dinâmicas e as particularidades do jogar de uma equipa.
Considero fundamental o conhecimento teórico alargado sobre Futebol. Considero o conhecimento prático fundamental.
Depois a prática, a base da evolução.
Com muito ou pouco conhecimento, acompanhar um jogo in loco (sem recurso a video), ter 90 minutos para radiografar uma equipa, perceber os seus princípios de jogo, etc, é complexo.
Requer método, requer experiência, requer o “olho treinado” para olharmos para o que interessa, para sermos capazes de identificar os detalhes que podem fazer toda a diferença.
Por outro lado refiro-me a relativo, porque tudo depende daquilo que o treinador exige do seu observador de adversários.
Se o fundamental fôr uma análise mais superficial e apenas relativa a grandes princípios de jogo e ao que é, digamos, estrutural, com mais ou menos qualidade, não é difícil fazer uma boa análise.
Quando a exigência é de outro tipo, muito mais complexa, pormenorizada, etc, então a tarefa torna-se bastante exigente.
Se para além da observação in loco ainda existir a possibilidade do recurso a video, a tarefa simplifica-se.
Se mesmo não existindo video, existe a possibilidade de ver mais do que um jogo, a tarefa fica mais facilitada e a probabilidade de errar será sempre menor.
Se a observação tem que ser feita em 90m, a informação exigida é bastante, então é uma tarefa difícil e árdua.
Já vivi ambas as realidades.