A Liga Europa e o treinador Português

on sexta-feira, 18 de março de 2011
Ainda no momento de regozijo pelo apuramente de três equipas portuguesas para os quartos de final de uma competição europeia, fui invadido por um sentimento de orgulho no nosso futebol, mas em particular nos nossos treinadores, no treinador nacional.
Alguns minutos mais tarde, assistindo ao programa pontapé de saída, senti da parte dos comentadores o mesmo orgulho e a mesma constatação de um facto.

Numa altura em que parece que as eleições do Sporting CP se decidirão através do candidato que apresentar o treinador mais sonante, não deixo de pensar que mais uma vez a classe dirigente prefere viver “numa completa” ilusão. Subitamente os “salvadores” do Sporting são o Zico, o Scolari e mais uns quantos treinadores estrangeiros que com mais ou menos afinidades ao nosso País não têm o perfil adequado para treinar um clube português.
Se calhar é até atrevido da minha parte dize-lo de um treinador campeão do mundo, o qual alguns Portugueses ainda hoje colocam num pedestal.
O mesmo seleccionador que destruiu parcialmente o futuro da nossa selecção, que se recusou a pensar na Selecção como uma pirâmide que precisa de solidez na base para que no topo apareça a nata.
Ou seja, desleixou por completo os escalões de formação, ignorou a necessidade de renovação gradual da selecção principal e saiu já sem glória... aproveitando para ganhar uns milhões num país em que “quem tem olho é rei”.

O Sporting CP é apenas um exemplo, um de muitos exemplos que se repetem ao longo dos anos. O que é estrangeiro é que é bom, é que é reconhecido, é que tem qualidade.
E depois passam por cá os Koemans, os Camachos, os Quiques, os Del Neris, os Vitor Fernandez e tantos outros que com mais ou menos sucesso não trouxeram glória e estabilidade aos clubes que orientaram.
Serão fracos? Era incapaz de o dizer. Não teriamos melhores alternativas em Portugal? Estou convicto que sim.

Jorge Jesus, na época treinador do SC Braga, teve a coragem de dizer algo que me parece claro: os treinadores Portugueses estão anos luz á frente dos anglo-saxonicos, dos Espanhóis e até dos Italianos que teimam em estagnar no tempo, no que diz respeito á metodologia de treino. Apenas o treinador francês parece estar a um nível similar.
Ou seja, não seria apenas Mourinho a defender que temos treinadores de muita qualidade em Portugal, tinhamos um treinador ainda desconhecido na Europa, a treinar o modesto Braga, sem medo de afirmar que Harry Redknapp (tão só o treinador de uma das surpresas da Champions deste ano – o Tottenham) era um treinador limitado e sem noções da componente estratégica do jogo.
Ontem Luis Freitas Lobo repetiu-o.

E se olharmos ao passado recente um mesmo denominador: o FC Porto atinge a glória europeia com um treinador português, José Mourinho (até aí visto como um tradutor), o Sporting atinge uma final europeia com um treinador luso, José Peseiro (muito mal tratado pela comunicação social Portuguesa) e ontem três equipas Portugueses escrevem história, orientadas por três treinadores portugueses: os jovens Villas Boas e Domingos e o experiente Jorge Jesus.
Podem dizer que é coincidência, mas eu não acredito em tantas coincidências.
Somos evoluidíssimos ao nível da metodologia de treino, temos qualidade nos aspectos táticos e estamos um ou dois patamares á frente no ponto de vista estratégico.
Somos portanto um País com excelentes treinadores, preparados na teoria e na prática para brilharem noutros palcos, noutros Ligas, em mercados mais apetecíveis.
A muitos apenas falta projecção e a oportunidade.

Jesus já chega tarde á ribalta, Domingos afirma-se num clube até então desconhecido na Europa, Villas Boas prova que é o treinador do futuro.
Três treinadores Portugueses, três treinadores que se dedicaram ao estudo aprofundado do jogo e arriscaria a dizer que três treinadores vincadamente com ideias nossas, portuguesas.

Enquanto em Portugal não se convencerem que em vez dos milhões em salários e das capas de jornais com treinadores estrangeiros, terão muito mais probabilidades de sucesso com o “portuguezinho”, que ganha menos, que exige menos e que provavelmente se dedica de corpo e alma ao projecto porque sabe que tem apenas uma oportunidade para agarrar o sonho, continuaremos a ver clubes á deriva em termos de política desportiva e arredados dos títulos durante vários anos.

Parabéns ao SL Benfica, FC Porto e SC Braga, mas sobretudo parabéns aos seus treinadores que continuam a provar que em Portugal se trabalha com grande qualidade nas quatro linhas.

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