Ser treinador. Simples ou complexo?

on sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Quando me limitava a ver futebol no sofá, ainda que sempre com um espírito crítico, pensava para mim, o futebol não tem segredos e utilizava o chavão popular: “o futebol é tão simples”.
Onze contra onze, uma bola, um “sistema tático” e joga.

Depois abracei o fenómeno profissionalmente, dediquei-me a aprender, a questionar e a testar.
O futebol de simples tem muito pouco, a complexidade das inter-relações entre onze jogadores condicionadas por outro grupo de onze jogadores que não permite que a resposta a cada situação seja mecanica, igual, automática.

Mas só quem já liderou uma equipa sabe e percebe a verdadeira complexidade e a exigência que está inerente ao cargo de um treinador.

Tudo começa no primeiro dia.
Conhecer o clube, perceber a cultura do clube, compreender as expetativas internas e externas, identificar os problemas estruturais.
Avaliar a equipa, perceber as suas principais qualidades, as suas lacunas, de que forma os jogadores poderão corresponder a uma determinada concepção de jogo ou não. Adaptar-nos.
Recorrer ao mercado, ir em busca daqueles jogadores que podem nem ser os melhores, mas nos dão garantias de se encaixarem no modelo que se pretende implementar, os jogadores que nos garantem competição interna e o suprir lacunas que poderiam dar origem a problemas.

Tudo pronto para o arranque.
Estabelecer laços de confiança, de respeito, criar um espírito de missão colectivo, um pensamento de um por todos e todos por um. Estabelecer objectivos internos ambiciosos mas também realistas.
Trabalhar, passar ideias, fazer a equipa crescer.
Encarar a competição, estudar o adversário, preparar a estratégia para cada jogo e ir em busca dos objectivos.
Focar a concentração dos jogadores na vitória, na conquista, na superação, mas sobretudo na execução da ideia, da filosofia de jogo que a equipa procura trabalhar diariamente.
Durante o jogo gerir emoções, passar confiança, motivar. Ler o jogo, antecipar as soluções e respostas do adversário, responder com alterações, ajustes, novas estratégias. Mais uma vez a adaptação á realidade que é sempre diferente e tem sempre um pouquinho de inesperado.
Reagir ao golo marcado, reagir ao golo sofrido, reagir á pressão da bancada, improvisar na hora da lesão, recear na hora do cartão amarelo ou vermelho, gerir o relógio e no apito final: a alegria ou a tristeza, a glória ou o fracasso.
Feliz ou abatido, abraçar o grupo, passar uma palavra de optimismo, manter o grupo focado e concentrado nos objectivos.
Fim de semana em casa, a avaliar a resposta em jogo, o que está bem, o que está mal, como alterar no caso de ser necessário.
2ª feira a recuperação. Sobretudo ao nível mental.
Na 3ª a folga, o projectar a semana de trabalho e o projectar as dificuldades que o próximo adversário colocará.

Com o avolumar de jogos, os resultados a terem peso positivo ou negativo na equipa. Quando são positivos o tentar refrear os animos e impedir o facilitismo. Quando são negativos, o trabalho ao nível motivacional, o auto-controle para se ser líder e recuperar a equipa.

Interna e externamente os feedbacks. A capacidade para os digerir e seguir em frente. A humildade para reconhecer o erro.

A gestão dos objectivos individuais dos jogadores que por vezes chocam com os objectivos colectivos. O que não joga, o que não entende a substituição, o que fica triste pelo feedback menos positivo.
Manter o grupo focado, garantir espírito de equipa e respeito e compreensão pelas decisões.

Atinge-se o período decisivo da época, o tudo ou nada, a glória ou o inferno.
Cada vitória uma alegria imensa, cada derrota..o estreitar da margem de erro.
Postura crítica em relação ás vitórias com exibições menos boas, postura crítica ás derrotas com exibições abaixo do nível desejado.

No final, a alegria, o alívio, o sentimento de dever cumprido.
O objectivo está alcançado, a alegria imenso por ver um conjunto de jogadores a alcançarem aquilo a que se propuseram.
A alegria é maior por eles do que por nós, é maior pelo clube e pelos adeptos do que por nós.
A postura altruista de um líder que deseja de forma obsessiva que os seus atinjam o sucesso.
Naquele última dia o abraço a cada um deles, o obrigado pelo esforço, pelo empenho, pela dedicação, pelas horas de convívio fantásticas.
O relembrar os momentos marcantes, os laços de família que se criam com o grupo.
O telemóvel toca, as palavras são de elogio e de parabéns, as mensagens colocam o nosso ego no alto.

E depois?
Depois voltamos á estaca 0. Estamos prontos para outra!
Mais uma época de alegrias, tristezas, sofrimentos, convicções e objectivos alcançados!

São 4 anos. 4 anos maravilhoso anos a alcançar todos os objectivos a que os meus se propuseram.
No final do dia apenas penso: VALE REALMENTE A PENA!!

0 comentários:

Postar um comentário