Convições, expetativas e sonhos

on quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Olá a todos,

Para dar o pontapé de partida neste espaço, transcrevo um dos últimos textos que havia escrito num outro blog.

Um texto que no fundo resume a minha carreira, as minhas convições, expetativas e sonhos!

Aqui fica:




"Para quem não me conhece nem acompanhou o blog que criei á uns anos, foi exactamente um espaço como este, onde se teoriza, desabafa, analisa ou se expõe, que acabou por estar na origem da minha carreira no mundo do futebol.
No início o criar um blog era apenas um aderir “á moda”, um ceder ao fascínio de possuir um espaço público onde tivesse a oportunidade de me dar a conhecer aos outros.
Fui divagando, fui sendo verdadeiro comigo e convosco. Disse também muitas asneiras.
Parece estranho não é? Admitir que disse muitas asneiras...
Mas é verdade, acredito que nos encontramos em constante evolução e que a realidade não é igual para cada um de nós. Cada qual tem uma representação da realidade que é diferente da realidade do parceiro do lado.
E um dos pontos essenciais que estão na construção dessa realidade é o conhecimento.
A nossa realidade deriva, de certa forma, do nosso conhecimento. Quando não o possuimos vivemos certamente uma realidade diferente daquela que viveriamos se possuissemos mais “saberes”.


Mas adiante...
O blog inicial terminou quando passei a ocupar-me de forma profissional apenas e só do Futebol. O tempo começou a escassear, a atenção ao mesmo também. No fundo o blog deixava de ser um espaço onde me revia.
Passo a explicar, iniciei a actividade do blog como mero adepto, dei-lhe seguimento encontrando-me nos primeiros passos da minha carreira e abandonei-o quando a carreira tornou-se mais séria, mais profissional. No fundo olhando para o que escrevi durante tanto tempo, parecia que as ideias não eram as mesmas. Apenas algo se mantinha: a paixão pelo futebol.
Vou então retomar a partir dessa altura, fazer uma restrospectiva do que foi e é hoje a minha actividade no Futebol.


Começo por aquilo que me parece mais importante, a “ironia”.
A normalidade diz-nos que um qq indivíduo prepara-se para o profissionalismo começando pela formação (académica e não só) e depois aplica os seus conhecimentos na prática, algo que lhe garante a experiencia necessária para ir evoluindo e para formar novas ideias, etc.
A minha carreira começou de forma diferente. Comecei pela experiência e só nos últimos anos procurei a formação.
Ou seja, ao contrário do que seria natural, não sou formado académicamente em Desporto. Sou formado em Relações Internacionais e também nunca fui um praticamente de referência ou sequer um praticante regular do desporto federado. Era sim um grande apaixonado não só pela prática mas sobretudo por todo o fenómeno, por compreender o jogo, os porqués...
E foi esse fascínio que me levou, desde criança, a procurar e devorar informação, a procurar evoluir, a construir ideias, a tecer análises.
Algumas dessas ideias e análises foram expostas no referido blog e pelos vistos eram de alguma forma válidas, pois do nada surgiu-me um convite para integrar, ainda que de forma amadora, um departamento de prospecção de um grande clube nacional.
Se até então havia “decidido” interiormente que nunca teria hipótese de garantir o meu espaço no futebol (hoje percebo que era apenas o medo de sair da minha zona de conforto e ir atrás do meu sonho, quiça o medo de me dizerem não, de me fecharem portas), de repente a oportunidade que me deram (e a quem me deu a oportunidade estarei eternamente grato) foi o click que eu precisava, a motivação que eu precisava para deixar de lado o receio e lutar para ser cada vez melhor e garantir o meu espaço.
Devo referir que por espaço peço que o compreendam como a possibilidade de fazer o que gosto, no desporto que amo, de uma forma profissional. Mas nunca, nunca, pensei em garantir o espaço por algum motivo de ordem financeira, aliás porque o futebol é incerto, sinto que por vezes me sacrifico em termos materiais de forma a continuar o meu “quest”, o meu caminho.




Foi a experiencia em prospecção e a vontade de provar a mim mesmo, e aos outros, que reunia o que é necessário para ter sucesso e apresentar resultados, que me levou a uma busca incessante de informação, me levou a um processo de formação que julgo que nunca terminará.
Pelo meio desta busca viria a surgi uma nova oportunidade, a de estar ligada ao treino, ao liderar uma equipa de competição.
Essa oportunidade veio-me trazer plena realização, porque é realmente o que amo, mas também teve o efeito de aguçar ainda mais o meu “apetite” pelo conhecimento.
O querer ser cada vez melhor, o querer compreender todos os pormenores, o querer atingir objectivos cada vez mais ambiciosos, levaram-me/levam-me a ler dezenas de livros, dezenas de monografias e teses de doutoramente, a inscrever-me em dezenas de seminários e a procurar formações na área desportiva (como recentemente o Coaching Desportivo e o Coerver Coaching).
Em mim existe uma espécie de “fome”. É uma sensação de insaciablidade, quero mais e mais.
Da experiência do treino tenho aprendido muito, tenho aplicado, questionado, confrontado e depois chego a conclusões. Tenho por hábito questionar permanentemente o meu trabalho. Acredito que o questionar nos leva a evoluir e a procurar ser melhores.




A estas duas actividades, prospecção e treino, juntou-se a de colunista futebolístico, um sonho de criança.
Ou seja, cumpri o sonho de criança, de ter um espaço meu numa publicação nacional para falar de temas que me interessam muito: o futebol de formação.
Este conjunto de experiências que a escrita me proporcionou, assim como a possibilidade de entrevistar os treinadores de renome foram uma experiente muito enriquecedora, pois permitiu-me perceber que há muitos pontos de vista, há muitos caminhos, não há formulas mágicas.




Por último e porque acredito que se espalharmos muitas sementes hoje, e isso consegue-se com provas inequívocas perante os outros de trabalho, vontade, eficácia, resultados, vamos colher fruto amanha, uma dessas sementes deu resultados e surgiu a oportunidade de trabalhar na Liga Vitalis, na área específica de análise de adversários.
Uma experiência fantástica. Não só por me ter aberto as portas do Futebol ao mais alto nível, mas porque conheci uma equipa técnica de valor, com muito futuro. Homens de grande qualidade humana, que sempre reconheceram o meu trabalho e com os quais aprendi muito, sobretudo em termos de relacionamento de balneário, liderança, atitude.
A observação de adversários pode parecer uma área monótona, mas é certamente uma área muito enriquecedora.
Obriga-nos a analisar ao detalhe, a dedicar tempo aos detalhes, a questionar a nossa própria concepção de jogo, etc.
O futuro reservou-me o salto da Liga Vitalis para a Liga Sagres, de um clube simpático para um clube com uma mística muito própria. Salto este que no fundo surge do reconhecimento das pessoas que apostaram em mim e que decidiram dar-me nova oportunidade agora no principal palco competitivo Português, a primeira divisão.


Ou seja, em 6,7 anos, tenho vivido um pouco de tudo.
E em jeito de conclusão, julgo que a multidisciplinaridade é fundamental.
Mais curioso é perceber que actividades aparentemente diferentes (embora tendo por base a mesma área) se complementam e são mais valias umas nas outras.
A minha formação académica, que não está relacionada com Futebol, permite-me, de alguma forma, encarar o fenómeno Futebolístico com um olhar menos “absorvido pelo sistema”. Ou seja, permite-me “avaliar” de outra forma, sem estar condicionado por “verdades absolutas” típicas do mundo futebolístico. Ao mesmo tempo garantiu-me maior preparação em áreas tão diferentes mas que podem ser extremamente úteis como a diplomacia, a comunicação, a gestão, etc, todas elas áreas que podem ser extremamente úteis, pois como já ficou célebre a expressão: o treinador que apenas de futebol sabe, de futebol nada sabe.
O trabalho em prospecção de talentos permitiu-me garantir conhecimentos e experiências muito úteis. Permitiu-me aprofundar a análise de jogadores, o que procurar num jogador, a margem que os jovens atletas têm ou não, o tipo de características que parecem ser mais “importantes”, por assim dizer, para quem um atleta chegue a top, garanta rendimento, sucesso.
Por outro lado garante-me conhecimento de mercado, fez-me ganhar uma enorme rede de contactos (um dos bens mais valiosos na sociedade de hoje).
Tem sido uma experiência fantástica, até porque como se trata de servir uma Instituição de topo, também nos exige diariamente um trabalho e resultados de topo.
Depois veio, á uns anos, o início da experiencia como treinador.
No fundo, abriu-se a porta da minha paixão e daquilo que quero fazer profissionalmente na minha vida.
A paixão pelo treino é cada vez mais intensa. O crescente conhecimento em relação á área do treino cria-me, ao contrário até do que esperava, cada vez mais fascínio e paixão por esta actividade.
Julguei que o sentido seria inverso. Tal como acontece muitas vezes na vida, aquilo que poderia começar como uma grande paixão, poderia tornar-se numa relação estável mas sem chama.
A verdade é que a chama é intensa e parece ser cada vez mais forte.
Aliei ao conhecimento teórico a experiência prática.
O futebol vive de resultados, desportivos e não só. Todos os anos tenho objectivos para cumprir, felizmente todos os anos os tenho alcançado.
Mas sou-vos sincero, muitos dos resultados que afirmo ter alcançado são resultados que derivam do “falhanço”. Parece contraditório mas não é!
É verdade que me encontro satisfeito com os resultados desportivos alcançados, é verdade que estou contente com o futebol que as minhas equipas praticam, mas também é verdade que o hábito de questionar diariamente o que faço, me tem levado a concluir que errei muitas vezes e através desses erros procuro evoluir para patamares superiores.
A minha vida hoje em dia é isso mesmo. Buscar informação, criação de ideias próprias tendo por base teoria e experiencia prática, tirar conclusões, questionar o que foi feito.
É fascinante, caros amigos! É uma luta interior muito saudável!
A experiência no “jornalismo” fez-me perceber e compreender o fenómeno pelo lado da imprensa.
Percebo e relativizo as questões típicas do jornalista a um profissional de futebol, relativizo algumas das afirmações que são feitas, entendo o que a imprensa espera ouvir e como contornar situações delicadas, como gerir a informação que é passada, etc.
Deu-me alguma preparação naquilo que é hoje fundamental no fenómeno futebolístico: a comunicação para o exterior.
Por fim, a observação e análise de adversários.
A mesma permite-me ter uma realidade muito sustentada dos tipos de futebol que se praticam, das ideias que se defendem, das acções que se tomam em determinadas alturas.
No fundo permite-me estabelecer padrões.
Baseado nas minhas convicções, nas minhas ideias, procuro perceber de que forma posso tirar proveito dos padrões que registei, de que forma isso me pode garantir resultados!
É muito interessante, enriquecedor e uma experiência que complementa todas as outras.
Ou seja, esta multidisciplinaridade que vos falo, será, segundo a minha crença, aquilo que me irá permitir ter sucesso,.
E de repente todas estas experiencias profissionais e vivencias que a elas estão associadas, me tornaram mais completo e se complementam tornando-me um profissional mais versátil mas também mais preparado para os desafios do futuro.


É neste patamar que me encontro hoje.
Sinto-me realizado na minha actividade, mas quero sempre mais. Ambiciono lutar por objectivos cada vez maiores e nunca caio no erro de me contentar com o que tenho hoje.
Existe sempre um ponto A, o ponto onde estou agora, e um ponto B, o ponto para onde quero ir.
Chegar ao B depende apenas da minha vontade de deixar a minha zona de conforto e aceitar entrar em zonas de desconforto, até em zonas de pânico, para atingir o objectivo seguinte.
E quando chegar ao ponto B, certamente que irei querer atingir o ponto C, é essa busca incessante por mais e mais que nos faz manter a motivação para sermos cada vez melhores naquilo que fazemos.
Portanto realização é apenas um ponto de partida, pois acredito que mesmo estando bem posso estar sempre melhor e independentemente dos obstáculos, estarei preparado para lutar por aquilo que quero, pelo meu sonho, trabalhar no desporto que amo, o Futebol.
E como ser melhor? Acumulando incessantemente conhecimento, experimentando na prática, recolhendo vivencias próprias e dos outros, acumulando no fundo...experiência."




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